domingo, 11 de dezembro de 2011
A Silva - The blackberry vine
A Silva, na parede
parece não ter fome ou sede...
Ninguém sabe o que come
Ninguém sabe o que bebe
como forma sebe
pois não se move
e há meses que não chove...
Contudo, cresce
de repente
para trás e para a frente
sobe agora e logo desce
cobre muros e quintais
veredas, becos, caminhos
e cautela, que por ela
por sua trama de espinhos
não entras nem sais...
Peço-te então, que não tentes
não a enfrentes
que por aí não se fica
e te pica
mas, se choras
dá-te flores e amoras...
Mizangala
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Vitral 3 - Stained glass 3
RIGOR e boa vontade, são alicerces da verdade...
Procura a SERENIDADE, no furor da tempestade...
Sorte, a de uma boa MORTE...
Na balança da EQUIDADE, o fiel é a verdade...
Disse-me o Poeta, em criança, que com a CIÊNCIA "o mundo pula e avança"...
BRINCAR até morrer, dá saúde e faz viver...
Bem me tinham dito, que o RESPEITO é tão bonito...
DESPORTIVISMO é glória... digno na derrota e na vitória...
Tantas vezes um SORRISO, é tudo quanto preciso...
Mizangala
domingo, 23 de outubro de 2011
O Bibe - The Bib
Tiro do bolso um botão
uma moeda, um carrinho
um papel de rebuçado
uma flor velhinha e seca
um segredo amarrotado
um berlinde e um pauzinho
um fio azul, um pião.
Nunca o bolso está vazio
quando nele meto a mão!
Quando tiver de crescer
e o meu bibe se rasgar
onde vou buscar surpresas
onde vou buscar um sonho
quando deles precisar?
Teresa Martinho Marques
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Vitral 2 - Stained glass 2
No ESPAÇO, tudo se move a compasso e se confundem em pleno, o grande e o pequeno...
Pelo COMPANHEIRISMO se aprende o altruísmo...
Supus, que podia ser o Pai de Jesus mas o JOSÉ, desta vez, é amigo da Inês...
Depois da noite dos meus medos, a MAMÃ é a minha manhã...
No topo do bolo da verdade, está a cereja da SINCERIDADE...
MÃE é leveza e firmeza, ninho e carinho, fada iluminada... sempre renovada...
Através da ESPIRITUALIDADE, se alcança a eternidade...
FILHOS no ventre... ilusão; FILHOS no ninho... paixão; FILHOS voando direito... orgulho e satisfação...
INCONFORMISMO com tino, dá à vida dinamismo e molda o destino...
A INTROSPECÇÃO dá cabeça ao coração...
Por boas causas, IRREVERÊNCIA sim e com frequência...
Mizangala
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Viajar - Travelling
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Vitral 1 - Stained glass 1
CIENTISTA, é "menino perguntador", com a varinha mágica da técnica e do rigor...
Ao ver nuvens a chorar, o sol pinta ARCO-IRIS para as animar...
Com a família à LAREIRA, eu passava a vida inteira...
Só pela MEDITAÇÃO, nos fala o coração...
PAI verdadeiro é o amigo primeiro...
BEIJINHOS dos amigos, irmãos ou pais, nunca são demais...
Ardendo a LENHA em tarde calma, aquece o corpo e a Alma...
FELICIDADE, é viver com intensa alegria cada segundo de cada dia...
Verão cansado, perdendo a folha e com sono, é já OUTONO...
Por muito que o coração tente, a PELE é que sente...
Mizangala
sábado, 27 de agosto de 2011
O Bebé Prematuro - Premature Baby
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Vitrais - Stained glass
segunda-feira, 11 de julho de 2011
O Número Sete - Number Seven
Todos são especiais
mas do Sete, é que eu gosto mais
porque é forte
não teme a morte
tem um belo porte
e sempre me dá sorte...
O zero, com todo o respeito
nunca está satisfeito...
alma seca, de caruma
com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma...
Pragueja o número um, depois
porque quer ser promovido a dois...
Quanto ao dois, elegante e cortês
sonha em ser quatro, sem passar pelo três...
O três, de camisa às pintas
está-se nas tintas...
O quatro, chora sentido
pois já foi seis
mas roubou oito anéis
e acabou despromovido...
O cinco, que está no meio
tem receio
de ser esquecido
de passar despercebido...
O seis, perdido em contas e papéis
só diz que "não"
(tem uma depressão)...
O oito
lembrando um biscoito
acha que é obeso
sente-se indefeso...
O nove
nem se move
pois teme a malvadez
da raíz quadrada
essa bruxa danada
que o transforma em três...
Com lágrimas ou sorrisos
todos são precisos
todos especiais
mas a história se repete
pois do Sete
é que eu gosto mais...
Mizangala
domingo, 26 de junho de 2011
Quando foi? - When was it?
Deixaram de me embalar
me aconchegar
com histórias
à noite
para adormecer
E eu não me lembro quando foi
o dia
a exacta hora
em que se foram embora
e se esqueceram de mim
(e a palavra fim, foi mesmo fim).
O que descobriram sem eu saber?
Que chegara às estrelas?
Já sabia ler?
Não acreditava em fadas
ao anoitecer?
Foi duma vez só que cresci?
Ou foi sendo, sem regresso,
e eu nem me apercebi?
Não me lembro quando foi
o dia
o exacto momento
em que olhei de fora para mim
e percebi
que o meu corpo era o meu.
Agora
já não é importante recordar
a exacta hora
Esqueci.
Porque chegou a noite
de emprestar histórias
e de semear
magia e fadas
em ti.
Teresa Martinho Marques
domingo, 5 de junho de 2011
A Lista Telefónica - Telephone list
Pintos, Morgados, Rebelos
Santos, Neves, Amarais
Costas, Martinhos, Capelos
Silvas, Almeidas, Pardais
Lourenços, Afonsos, Serras
Ferreiras, Lopes, Saraivas
Ramos, Henriques, Terras
Pereiras, Dias e Paivas...
Assim consta na Lista
e por muito que insista
nesta dialéctica
pouco poética
os números e nomes alinhados
ordenados
bem comportados
por ordem alfabética
lá estão
sem ondas nem emoção
cumprindo a sua missão...
Mas a quem conquista, a Lista?
Vamos ver
se consigo responder...
Talvez o Bruno, o Pedro e o Manuel
que dela fazem aviões de papel
ou a minha tia de Almada
que nela embrulha castanha assada
ou ainda, por fim
por me ter falado assim
um caçador dos Verdelhos
farto de nada caçar:
"A Lista é o único lugar
onde vejo alguns Coelhos"!!...
Mizangala
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Brilho - Shine
terça-feira, 19 de abril de 2011
Um Arco-íris no sotão - A rainbow in the attic
Subiu ao sotão, o Marco
procurando um velho barco...
Viu a boneca de trapos
duas mantas de farrapos
pistolas de fulminantes
os livros velhos nas estantes
disfarces de Carnaval
uma barba de Pai Natal
a arca cheia de rendas
o fogão e duas tendas
um mapa do tesouro
o blusão todo de couro
as velas da Comunhão
aventais, saco do pão
azeite, petróleo, batatas
três fardas e quatro batas
um morcego dormindo
um duende sorrindo
grelhador, pó das formigas
duas bruxas com intrigas
o carro de bombeiros
soldados de chumbo inteiros
um unicórnio saltando
ratazanas conversando
e, para terminar
algo difícil de explicar
de entender
em que apenas Marco parecia crer...
Aquele menino diferente
no que diz e no que sente
acende com um botão
(sem fios de ligação)
um Arco-íris só seu
que em sonhos conheceu...
Então, brincam e riem, conversam juntos
sobre diferentes assuntos
e maravilham
pelo que partilham
pela amizade
pela cumplicidade
fazendo deste mistério
um caso sério...
Como nestas coisas do Coração
não tem que haver explicação
nada lhes pergunto
e encerro aqui o assunto...
Mizangala
domingo, 3 de abril de 2011
Lareira - Fireplace
sábado, 26 de março de 2011
O Nenúfar - The Nenuphar
Perguntou-me esse menino
na relva, fazendo o pino
se o Nenúfar do lago
se sentia incomodado
(trabalhando sem ser pago)
por andar sempre molhado?
Respondi-lhe que não
com convicção
pois senão
onde é que os sapos e rãs
coaxando ao Sol das manhãs
em grupos de três
ou quatro
(ou todos de uma só vez)
fariam circo e teatro
e no palco improvisado
todo o seu sapateado?
Mizangala
quarta-feira, 16 de março de 2011
O Pote do Incenso - The Incense Pot
Sobre o Pote do Incenso
há tudo, menos consenso...
Dizem alguns, não fazer bem nem mal
e que, meio sonso
meio insonso
é um caldinho sem sal...
Outros, eruditos
mais expeditos
realçam vantagens
virtudes
que a Alma faz viagens
e tens outras atitudes...
Quanto a mim, penso
que o Pote do Incenso
com bom senso
não quer saber de arrelias
nem tão pouco de consenso...
Deita fumo todos os dias
correu muitas dinastias
é isso que faz
é disso que é capaz
nisso persiste
e insiste
(é um direito que lhe assiste)...
Mizangala
domingo, 6 de março de 2011
O Detergente da loiça - The Dishwashing liquid
O Detergente da loiça
(por pouco que o Mundo oiça)
no esfregão bem ensopado
fala sempre apaixonado
de um cosmos belo, diferente
sem estrelas nem cometas
em que as bolas de sabão
são como pequenos planetas
gravitando alegremente
à volta do coração...
Explica às panelas
com emoção
que as bolas de sabão
todas diferentes, singelas
são Universos de luz
envoltos por um capuz
jardim de infância e paiol
onde brincam e explodem
(sempre que podem)
pequenos raios de Sol...
O Detergente da loiça
não tem mesmo quem o oiça
mas sem perder a moral
resta-lhe a consolação
suficiente, afinal
(e não é coisa de loucos)
de soltar a Alma aos poucos
nas bolinhas de sabão...
Mizangala
terça-feira, 1 de março de 2011
A Lagarta - The Apple Leech
Mudou de maçã
a Lagarta, esta manhã...
Está contente
porque sempre é, em simultâneo
igual e diferente...
Foi um acto espontâneo
de tipo instantâneo
e carácter momentâneo
já que, na macieira
mudar de casa, é brincadeira...
Ali, uma Lagarta
de vida farta
estreia nova residência
é claro, por conveniência
(sem perder a paciência)
com espantosa frequência...
Depois, a Lagarta não se atrasa...
faz buraco e come a casa
do telhado, feito casca
às delícias do tutano
no amido se enfrasca
(finda a cena e corre o pano)...
Mudou de maçã
A Lagarta, esta manhã...
rica vida
fácil, mas suicida
porque amanhã vem o tractor
com o pulverizador
carregado de insecticida...
Mizangala
domingo, 20 de fevereiro de 2011
O Enigma da Virgulação - Coma's enigma
Era uma vez uma vírgula bem colocada num texto, algures num decreto-lei. Não tinha bem consciência do seu valor. Dizia-se, porém, que tinha sido debitada por um ministro, pela módica quantia de 120 mil contos, numa folha de papel timbrado, daquelas que são, ou deviam ser, “A Bem da Nação”. É verdade que se sentira lisonjeada por ter sido desenhada por uma Parker dourada, mas, à parte isso, era uma vírgula modesta, bem comportada, que desejava apenas que a deixassem sossegada.
Estava a pobre coitada no tranquilo desempenho da sua função, quando, de repente, citada na televisão por uma jornalista e retomada depois num jornal pela pena de um deputado, a vírgula saiu inesperadamente do anonimato, tendo sido catapultada da sua condição de insignificância para a posição de autêntica vedeta do PdB (sigla de País das Bananas, onde se passou esta história). [É claro que uma tal projecção fez com que muitos ficassem roídos de inveja, com a ciumeira própria dos ignorados. Cada um manifestou-se à sua maneira: os estupefactos alinharam com os pontos de exclamação, os incrédulos juntaram-se aos pontos de interrogação e os peremptórios fizeram coro com os pontos finais.]
Não fosse o diabo tecê-las, o Grande Chefe levou duas semanas a abalançar-se na denúncia pública do perigo que seria deixar pairar a dúvida sobre a credibilidade das vírgulas nos decretos-lei do seu país. Compreende-se a hesitação: aquela vírgula poderia ser um trunfo para, ou contra, os adversários. Ganha a necessária afoiteza, foi anunciado aos quatro ventos: “É preciso esclarecer o caso da vírgula!”.
Entretanto, os PdBeses, que, apesar de serem um povo sofrido, tinham um grande sentido de humor, foram-se a elas, às vírgulas, e foi um regalo. Houve de tudo na brincadeira. Glosaram-nas em todos os tons, escreveram artigos, alguns sem pontuação (como fazia a Guidinha, nas suas redacções de boa memória), inventaram anedotas, compuseram cantigas, eu sei lá. Se tivesse sido dada uma ordem ao Banco Central das Vírgulas para lançá-las no mercado para regularizar o sistema, a inundação não teria maior.
Quanto aos partidos políticos representados no Parlamento, uns eram de opinião que se devia ir à procura da vírgula, e mesmo de outras vírgulas malparadas, outros manifestavam a sua perplexidade perante tanto zelo neste caso e o deixa-andar-Maria-vai-com-as-outras noutros casos virgulentos, e os restantes entendiam que o Parlamento não devia lançar-se em correrias atrás da primeira vírgula que lhes pusessem à frente. Por fim, os parlamentares acordaram na ideia altamente original e inovadora de criar uma comissão para deslindar o mistério. Sabe-se que foram distribuídas lupas pelos membros da Comissão de Inquérito à Vírgula. Ignora-se o resto.
Tudo indica que esta história, como outras, terminará bem. Provavelmente a vírgula casa-se com um ponto, têm um filho, o ponto e vírgula, e são felizes para sempre.
Eduardo Martinho
Março 1993
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Sonhos - Dreams
sábado, 5 de fevereiro de 2011
A Caixa de Fósforos - The Box of Matches
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
A Janela do Telhado - The Roof's Window
A Janela do Telhado
fica na casa do lado...
Da Janela do Telhado
vê-se o céu estrelado...
Na Janela do Telhado
o sol não entra envergonhado...
Sobre a Janela do Telhado
a chuva faz o seu bailado...
No parapeito da Janela do Telhado
canta o melro enamorado...
Na madeira da Janela do Telhado
trabalha o pica-pau dourado...
Por baixo da Janela do Telhado
a andorinha tem o ninho pendurado...
Quem olha da Janela do Telhado
vê o Mundo renovado...
Mizangala
domingo, 23 de janeiro de 2011
A Papoila e a Borboleta - The Poppy and the Butterfly
Não há Borboleta
com a qual
a Papoila do quintal
não se meta...
Diz-lhes, trocista
que pétalas encarnadas
são vestes de artista
mais belas
elegantes e singelas
do que asas pintalgadas...
Dia após dia
a Borboleta cor-de-rosa
que transpira alegria
e é terna e formosa
não lhe dá resposta
pois do que gosta
é voar
e andar
bem disposta...
A Papoila, de novo insistiu
mas a Borboleta, nem sequer ouviu...
apenas voou, como sempre fazia
e celebrou mais um dia...
Mizangala
sábado, 15 de janeiro de 2011
O Pingo - The Drip
O Pingo
nasceu, era domingo
sem saber como nem porquê
assustado, bem se vê
brotando assim
de um céu imenso, sem fim
azul, de branco malhado
nessa nuvem pendurado
quilómetros acima
desta rima
e do campo lavrado...
Cresceu tudo, em poucas horas
adulto, sem mais demoras
e, de tão gordo que estava
para o solo distante
algo o puxava
com a força de um elefante...
O que ali depois se viu
só mesmo ao Pingo espantou...
tão simplesmente, caíu
no campo lavrado aterrou
e o corpo pulverizado
por metro e meio quadrado
ficou...
É esta a vida dos Pingos
mesmo aos sábados e domingos...
Mizangala
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
O Homem do Chapéu de Côco - The Man with the Coke Hat
O Homem do Chapéu de Côco
não é santo
nem é louco
(por enquanto)...
O Homem do Chapéu de Côco
não tem muito, nem tem pouco
não é nobre
nem é pobre...
Há quem diga que é porteiro
outros, que é cozinheiro
mordomo de algum marquês
ou todos, de uma só vez...
O enigma nem estaria
perto de ser decifrado
se por acaso, ao meio-dia
o Homem não tenho encontrado
caros leitores e amigos
no pomar, colhendo figos...
Todo ele se consola
e ficai sabendo, que aos quilos
os metia na cartola
(para espanto meu e dos esquilos
nos ramos empoleirados)
figos, às arrobas despejados
sugados
pelo estranho Chapéu de Côco
longo, estreito e muito louco
figos, passando para outro mundo
naquele poço sem fundo...
O Homem do Chapéu de Côco, amigos
olhou então para mim
enquanto a cena dos figos
parecia não ter fim...
Acenou, com simpatia
explicando o que fazia...
"Sirvo o almoço às mascotes
que vivem nesta cartola...
comem muito, estão uns potes
e não é pois brincadeira
quando regressam da escola
saciar esta frieira"!!!
Ainda pasmava eu
e algo estranho aconteceu...
no meio de chuva dourada
e sinistra reza cantada
o Chapéu, feito vulcão
projectou em erupção
três girafas, um elefante
duas vacas, um grilo falante
leões, dragões e um rato
escondido no sapato...
aí, por fim se solta a mola
e salta o coelho da cartola...
O Homem do Chapéu de Côco
de quem muitos sabem pouco
não é actor ou porteiro
nem mordomo ou cozinheiro...
tão somente, feiticeiro...
Mizangala