De crédito, és Cartão meu amigo, meu irmão... Vazia, a carteira mas tu, companheiro dás dinheiro a vida inteira por isso, fica comigo e eu contigo... O povo diz "Quem não tem Cartão no bolso ou na mão faz mal é infeliz é excluído social"... Sem qualquer hesitação mete pois o Cartão marca o código secreto e a carteira, antes vazia por golpe de pura magia já tem o papo repleto... Altruístas, geniais conheço mesmo Cartões que conquistam corações pois dão-te sempe o "pilim" mesmo que não tenhas mais... Sim... venham, venham não se detenham... qual de vós é o primeiro a gastar adiantado um saboroso ordenado ainda não trabalhado? Abençoado Cartão és nosso pai, nosso irmão tudo me dás, quando peço e só por vezes, confesso me sinto frágil, como um pinto sózinho longe do ninho chupado até ao tutano cérebro oco, tipo cano mas, quando essa crise pressinto a lucidez sempre finto pois se o macaco quer bananas a vaca, verdes canas o porco, tenras bolotas o comilão, boa mesa o guloso, sobremesa... eu quero o Cartão que dá notas!!!
O Jornal de Barcarena tem letra grande e pequena... O Jornal de Barcarena não tem direito de antena pois conta histórias banais feitas de coisas normais (igrejas, escolas, quintais...) O Jornal de Barcarena vive no anonimato ao sabor da brisa amena e sem pedras no sapato... O Jornal de Barcarena tem noventa e dois leitores e sem mártires na arena canta a Terra e seus Amores... O Jornal de Barcarena tem letra grande e pequena e eu sei, como contei que ele é assim, mas não tem pena...
Sisuda e fria a Borracha, por magia tudo apagava e não se importava... Os rabiscos no caderno o fogo do Inferno a memória ao computador a combustão no motor a luz da Lua os candeeiros na rua o fogão a chama da paixão o charuto, cachimbo ou cigarro a pintura no jarro... Porém, contente estou pois por sorte escapou para ele e para ti esta história que escrevi...
1. Embora o dicionário do Rodrigo Fontinha tenha lá escarrapachado que uma bicha - no sentido de fila, entenda-se! - é «um grupo de pessoas em fileira, uma a uma ou duas a duas, etc.», é mentira. A bicha lusitana não responde a este apelo. Nas bichas da nossa terra, as pessoas nunca se colocam «uma a uma» ou «duas a duas», colocam-se sempre em «etc.». Por natureza, a bicha nacional é um magote, tudo ao molho e fé em Deus.
Ainda consultei o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa - por ser moderno, precisamente -, mas a definição também não está actualizada. Diz lá que bicha é um «grupo de pessoas dispostas em linha recta, lado a lado ou atrás umas das outras», mas não é. As pessoas, quando se dispõem em linha, nunca é em linha recta, é numa linha muitíssimo abstrusa. Talvez porque está por inventar a geometria do civismo em Portugal.
As pessoas nunca se põem atrás umas das outras, põem-se em cima umas das outras. Em vez de se colocar na bicha à espera da sua vez, cada um coloca-se na bicha à espera da vez dos outros. O pessoal põe-se onde calha ou onde acha que melhor pode iludir os seus competidores.
2. Quando o padeiro pergunta «Quem é que está a seguir?», há pelo menos dez bocas que se abrem, esfomeadas de vez, prontas para comer o vizinho que se atrever a responder primeiro. O homem, à cautela, ainda diz «Tenham calma, que há pão para toda a gente», mas ninguém se comove. Cheira a complicação na padaria do bairro.
Havendo peixeira na bicha, isso então é o fim do mundo: o caldo entorna-se em dois tempos, jorra molho de escabeche por tudo quanto é rival de ocasião. Ninguém escapa, na procura de um bode expiatório para o mal-estar que se instala. «A culpa disto tudo é do Governo!», ouve-se. O silêncio que se segue é de assentimento.
A confusão só acalma quando alguém mais bem composto, com o ar de quem está habituado a ser obedecido, diz serenamente: «Quem está primeiro é a senhora do casaco encarnado.» Num só movimento, todos os olhares convergem na dita cuja. Há uma breve hesitação. E, antes que alguém tenha tempo de pôr em dúvida o que quer que seja, uma voz fininha aproveita a pausa: «Quero um pão grande e doze papo-secos.»
O padeiro retoma o vaivém rotineiro, atendendo o pedido da senhora do casaco encarnado. A crise, essa, segue dentro de instantes. O melhor é dar uma volta e regressar mais tarde.
3. Quem diz padeiro, diz mercado, talho ou mercearia. Diz café de esquina à hora do almoço em pé ou bicha de autocarro em hora de ponta. Onde quer que seja necessário o pessoal ordenar-se, é certo e sabido que se estabelece o caos, a entropia aumenta. Só há civilidade na bicha quando não há ninguém à frente de ninguém. A bicha nacional é a imagem da falta de organização do País.
Acresce que a lusa gente gosta muito de bichas. Onde houver um amontoado informe de pessoas, está lá uma bicha portuguesa, com certeza. Nem que seja para verem melhor o acidente. Para poderem contá-lo em pormenor, enquanto se queixam das bichas.
Bem hajas, Eduardo Martinho, pela ideia desta nova aventura conjunta, pela edição de fotografia e tratamento de imagem e por todo o trabalho, carinho e paciência. Bem hajas, Mãe Piedade, por seres quem és e estares sempre presente em todos os momentos. Bem hajas, mana Teresa, pela orientação dada e por todas as cores que dás a tantas palavras... Bem hajam, Filomena e Bruno, por todos os mimos e apoio. Bem hajam os amigos, autores dos textos, que me permitem viajar ao mundo das Palavras e das Cores... Bem hajas, Arco-íris, que me ensinaste as Cores...
Pinturas
Mizangala
Fotografia
Paulo Martinho
Tratamento de Fotografia e Edição de Imagem
Eduardo Martinho
Aviso à navegação
A cor da palavra "Mizangala", num dialecto de certa tribo africana, significa "eternamente jovem"...