domingo, 29 de agosto de 2010

Nas Ondas do Mar - In the sea's waves


Nas ondas do mar, podes ser peixe
e nadar.

Nas ondas do mar, podes ser espuma
e brincar.

Nas ondas do mar, podes ser barco
e partir.

Nas ondas do mar, podes ser gaivota
e voar.

Nas ondas do mar, podes ser só um sonho
a dormir.

Nas ondas do mar, podes ser canção...

Consegues ouvir?

Teresa Martinho Marques

domingo, 22 de agosto de 2010

Libertação pelo conhecimento - Freed by knowledge


Li algures uma frase com o seguinte significado: o conhecimento é o que fica depois de se esquecer tudo. Numa primeira leitura, poderia ser-se levado a pensar que, esquecendo tudo, nenhum conhe­cimento ficaria... Visivelmente, porém, não é esta a conclusão a tirar. Na verdade, da vivência pessoal de cada um, não se esquece aquilo a que alguma vez se aderiu completamente, ou seja, aquilo que se interiorizou em nós a ponto de passar a fazer parte integrante do nosso conhecimento.

Admitamos que se pergunta a alguém: Ainda sabe andar de bicicleta? ou O açúcar tem um sabor ácido, amargo ou doce? ou ainda Normalmente, em que época do ano faz mais frio em Portugal? Ninguém duvida que as respostas a tais perguntas serão dadas correctamente e sem hesitação. Supo­nhamos agora que se interroga um jovem estudante do ensino secundário, por exemplo, sobre questões relacionadas com matérias já versadas nas aulas. Nesta situação, como é óbvio, não se pode afirmar antecipadamente se as respostas serão correctas ou erradas. Isso dependerá da conjugação de vários factores intervenientes no processo de aprendizagem das matérias, de que se salientam aqui a capaci­dade dos professores e os meios laboratoriais e audiovisuais postos ao serviço do ensino.

Vem isto a propósito da minha passagem pelo Colégio Padre Fernando Eduardo Pereira – Outubro de 1949 a Julho de 1951 – e do conhecimento que me ficou desses dois anos lectivos, depois de esque­cer tudo... De todas as disciplinas poderia recordar episódios ou aspectos que influenciaram positiva­mente a minha actividade escolar subsequente. Citarei apenas um caso. Talvez levemente desfocado, porque esbatido pelo tempo. Mas autêntico.

Aulas de Ciências Naturais em manhã de sol. Foi até necessário fechar a janela para realizar a de­monstração, que a claridade era excessiva na sala. Da vitrina de um móvel, onde era guardado o pouco material didáctico que havia no colégio, saiu um aparelho que de há muito despertava a nossa curiosi­dade. Preparado o equipamento em cima da secretária da professora, a Dra. Carlota Serra, todos nos co­locámos à sua volta, atentos. A Terra era um pequeno globo, a Lua era uma esfera de cortiça espetada na extremidade de um arame encurvado, o Sol era uma vela reflectindo-se num espelho tosco. Accio­nadas por meio de uma manivela, as engrenagens, um tanto enferrujadas, entraram em funcionamento. A Terra começou a rodar em torno do seu eixo, a Lua iniciou o movimento de translação à volta da Terra, enquanto o Sol, bruxuleante, desempenhava a contento a missão. Eu e os meus colegas agitá­vamo-nos, interessados. Vieram as perguntas e as explicações, repetiu-se a demonstração. Como diria Sebastião da Gama: aconteceu uma aula! E, em meia hora, fiquei a compreender completa e definiti­va­mente como se sucedem os dias e as noites, como se explicam as fases da Lua, como se dão os ecli­pses da Lua e do Sol. Dera o primeiro passo no conhecimento dos mistérios da “máquina universal”.

Foi desde então, creio, que passei a olhar a Natureza com tranquilidade.


Eduardo Martinho

Maio.1977

domingo, 15 de agosto de 2010

A Noite - The Night



Amigos escutai
que a Noite cai
quando o sol se apaga
na vaga
que, longe no mar
de uma só vez o traga...
Então, devagar
as estrelas ocupam o seu lugar
(são pedaços de sol, a agonizar)...
Depois, chove carvão
sem pausa nem emoção
que em montanhas se juntou
e a Noite de negro pintou...
Por fim, chega o dragão
que ateia o carvão
(novo sol nasce inteiro
do infernoso braseiro)
e o dia, em cavalgada
faz cócegas à passarada...
Das fábulas, delírios
loucos martírios
e monstros medonhos
cai a Noite dos meus sonhos...

Mizangala

sábado, 7 de agosto de 2010

O Rato - The Mouse



No passado, trouxe a peste
e há muito quem o deteste
mas o Rato é bicho nobre...
rói o rico e rói o pobre...
Rói o toucinho fumado
as rolhas e o colchão
o cabrito bem temperado
marmelada e salpicão...
Rói o solar do marquês
sapatos do camponês
as telas desse pintor
as receitas do doutor
rói de noite e rói de dia
é assim, mas ninguém queria...
O Rato do povo é divino
rói por força do destino
rói por fé e triste sina
na brigada clandestina
mas nunca por penitência
por isso, tem paciência
talvez mesmo algum respeito
p'lo feitio (e não defeito...)
O Rato rói por tendência
e depois, com insistência...
apenas um modo de vida
temperado com raticida
mas com ela ou sem razão
(tira tu a conclusão)
o Rato é bicho nobre...
rói o rico e rói o pobre...

Mizangala